Tio Mena Barreto é retrato vivo do folclore meridional brasileiro e merecedor das mais altas homenagens.
Segue o texto, gentilmente enviado pelo amigo Hitlon Luiz Araldi
PLÍNIO MENA BARRETO DO AMARAL
(Biografia comentada)
Filho do Capitão da Guarda Nacional, Felipe Olímpio Barreto
do Amaral e de dona Altiva Ferreira do Amaral, e neto paterno de Sinfrônio
Barreto do Amaral e da vovó Cândida Barreto do Amaral, nasceu dia 08 de
dezembro de 1924, no 1º Distrito de Lagoa Vermelha, hoje Município de Capão
Bonito do Sul.
Sua numerosa família, alem da irmã, Maria Cândida Tavares
Barreto do Amaral, do primeiro casamento de seu pai, era integrada pelos irmãos Joaquim Francisco
de Assis e Veridiano, e das irmãs, Carminha, Sílvia, Lourdes e Diunina Barreto
do Amaral.
Como todo guri de estância, até os 19 anos morou com a família, ajudando na lides de campo,
tendo sido bom pialador a pé e a cavalo, e portanto, profundo conhecedor das
lides campeiras, até que por decisão da família foram morar em Caxias do Sul,
durante 05 anos.
Na infância aprendeu as primeiras letras, até o quinto Livro
e recorda com saudade da leitura do livro intitulado “O Manuscrito”, ao final
de seus estudos.
Depois de ter servido o Exército Nacional , sob as ordens do
Gal. Oscar Gomes do Amaral, e dado baixa como 3º Sargento do então 2º GACAV 75
da famosa Santiago do Boqueirão, voltou para Clemente Argolo, e em sociedade
com seu irmão Veridiano, e o
italiano Eugênio Nicoló, tiveram pela frente uma Serraria com 150
hectares de Pinheirais para beneficiar, tendo na época comprado um Chevrolet
1946 para transporte, que lhe custou 52 hectares de campo e mais um eito de contos de réis.
Nessa época chegou na região o filho do famoso Cel.
Bicaco, Sr. Laudelino Luciano Rodrigues
de Souza e sua esposa, Réa Silvia Coimbra de Souza, e arremataram 7.500
hectares de Pinhais, e o nosso Plínio, puxando madeira, enamorou-se da bela Elza de Souza, tendo transferido
residência a pedido dos sogros, em 1957 para Catuípe nas Missões. (Hoje dia 04 de abril de 2013, completa um ano de falecimento de Elza de Souza do Amaral).
De Catuípe mudou-se para Santo Ângelo estabelecendo-se com
Bar e Churrascaria, e formando o Conjunto Anay (bandoneon, gaita, cavaquinho,
sax, violão, clarinete, violino e
bateria), uma verdadeira Orquestra.
Em 1964 aportou em Passo Fundo, indo morar na Av. Rio Grande
e logo integrou-se a grande família do CTG. Lalau Miranda, abrilhantando Bailes
e programas Radiofônicos, com os
companheiros Nelson Petry na rabeca, e Luíz Feldmann no violão, recebendo a denominação do famoso radialista e
vereador Leopoldino (Dino) Rosa, de Trio Maravilhoso. Ali foi um peão completo,
tendo exercido os mais variados cargos e funções, e participado de dezenas de
atividades sociais e excursões do CTG, lembrando com saudade, de Júlio de
Castilhos, Ilópolis, Encantado, André da Rocha, Xanxerê, Pato Branco, duas
vezes à Volta Redonda no Rio de Janeiro, e mais duas na Exposição Agro Pecuária de Dourados e
Maracaju, no MS, integrando a grande Invernada dos Músicos, juntamente com as
Invernadas de Danças, Campeira e a Patronagem.
Nesse ínterim, em 1979, com seus dois FNM, foi residir em
Amambaí – MS, dedicando-se ao transporte de grãos, regressando novamente à
Passo Fundo.
Das suas firmes raízes arrinconadas em Passo Fundo, o casal
Plínio e Elza, geraram duas filhas, Circe Maria, casada com Valdir Mozzini, e
Zenilda (Kika) Barreto do Amaral, casada com José Goulart, que lhes geraram os
netos e netas, Carolina Barreto Mozzini, Ricardo José Mozzini, e os gêmeos José
Ricardo e Guilherme Barreto Goulart.
Nessa longa trajetória, hoje aos 88 anos, Seu Plínio Mena
Barreto, “o Rei do Bandoneon de Passo Fundo”, participou de inumeráveis
comissões julgadoras de concursos artísticos e culturais das mais variadas
entidades tradicionalistas, tendo arrematado nos Festivais do MTG –FEGART e ENART,
sete troféus de primeiros lugares e um de segundo, nos concursos de Bandoneon,
enfrentando eliminatórias, abaixo de geadas
nos mais distantes rincões do Rio Grande e, alem disso, integrou durante
toda a sua existência o famoso Grupo de Danças Folclóricas “Os Farroupilhas” de Passo Fundo.
Desde o 1º Rodeio Nacional de Integração Gaúcha, até o 4º
Rodeio Internacional de Passo Fundo, Plínio Mena Barreto e Oscar Pinto Vieira,
formaram uma dupla imbatível – pedindo gado emprestado – para abrilhantar os
Concursos de Tiro de Laço dos pioneiros
Rodeios da Capital do Planalto, ambos integrando a Comissão Campeira e na
qualidade de Assessores da Secretaria de Turismo do nosso Município, atuou
ainda como Cônsul do Rodeio Internacional, na Argentina e no Paraguai, e culminando por formar uma Orquestra
de Folclore com renomados músicos locais, apresentando-se durante dois anos em
festividades da Municipalidade e no 5º Rodeio Internacional de Passo Fundo.
De espírito inquieto e empreendedor, Tio Mena, que já tinha
sido Pecuarista, Madeireiro, Caminhoneiro, Comerciante, Ecônomo, Funcionário
Público, Empresário Musical, e sempre tocando bandoneon, por dom de ofício,
ajudou a fundar o Centro de Tradições Gaúchas Tropel de Caudilhos, e numa
dessas volteadas, juntamente com seus familiares, idealizou e fez realizar o
Primeiro Encontro de Bandoneon em Passo Fundo, no ano de 2003, nas dependências
do Teatro Múcio de Castro, e hoje, já em sua XI edição, dia 16 de novembro de
2013, no auditório do Colégio Notre Dame, tocadores de Bandoneon, do RS, SC, PR
, Argentina e Uruguai, estarão presentes mais uma vez, agora, na Capital
Estadual do Bandoneon.
Mas, e a história do tocador de Bandoneon?
É mais ou menos assim:
O Tio Mena era um gurizote ainda, de mais ou menos quinze
anos de idade, e uma fatalidade, levou prematuramente seu primo Olímpio, filho do seu tio Olivério Barreto do Amaral, e
numa visita a estância dos parentes, o Plínio foi dormir no quarto do falecido,
e a curiosidade o fez encontrar no
armário uma bela gaita Somenzi, das primeiras, que foram fabricadas em
Capoeiras, um vilarejo antes de Nova Prata. Pediu de regalo, a dita gaita, mas não levou, só
meses depois, um próprio do seu tio, chegou na estância a cavalo, com a gaita a meia espalda,
sendo-lhe presenteada...mas, embora o seu interesse daqueles foles não saiu
nada que prestasse...só inhéco, inhéco.
Logo, logo, para embelezar aqueles 20 milhões de campos, o Capitão Felipe Mena Barreto, resolveu de
fazer na fazenda um cemitério, onde toda a família descansaria, e para tal,
contratou um especialista em feitura de
taipas, o caboclo Eleodoro Pedra, que alem de artífice em pedraria era um
tocador de Bandoneon de mão cheia.
De certa feita, o guri Plínio encontra o seu Eleodoro,
cortando pedra e chorando, e perguntado, se lamentou, da saudade da família...
que a tempos não via, que andavam passando fome... e que precisava vender o seu
Bandoneon... para atender as dificuldades da família que moravam lá pela Extrema, nos confins da Vacaria.
Condoído, pediu ao pai que ajudasse o peão, e lhe comprasse o
seu Bandoneon, mas Dom Felipe relutou, argumentando que seu ouvido não era dos bons, pois não
tocava nem gaita...que dirá Bandoneon, mas a insistência do piá e a promessa de
arrancar música daquele instrumento, amoleceu o coração do Capitão, que
pagou ao Eleodoro pelo tal bandoneon, a bagatela, de uma vaca de
cria, um boi gordo, ambos no valor de 400 mil réis e ainda mais 200 mil réis em
dinheiro.
Guri novo, com todo leite, bom de ouvido, de tino apurado,
via, apreciava, e memorizava, os botões e os corcovos do fole, e em cinco dias,
já estava tocando a sua primeira havaneira no seu bandoneon.
A notícia de que o filho do Dom Felipe, tocava uma havaneira, e mais cinco músicas, se
espalhou na região, e logo foi contratado para tocar no salão do João
Basílio, o Conjunto dos
Barretos, bandoneon, dois violões, cavaquinho e pandeiro.
Naqueles tempos, nos Bailes de São João, do Divino Espirito
Santo, os donos de Salão exigiam que cada um levasse um brinde para ser
leiloado, então, os músicos tocavam uma moda, o povo dançava, e depois
seguia-se o leilão de uma prenda, e assim por diante, *entonces, a meia duzia
de repertório musical, varava a noite e sobrava fole.
Por perdulário e pachola, o gaiteiro Félix Barbisan, num
baile em Esmeralda, arrematou todos os brindes que foram oferecidos no leilão,
desde uma torta até um gramofone estragado, tal era o gosto e as festanças
daqueles tempos, onde lá pela metade da noite, era oferecido aos presentes,
numa bandeja, café preto e pão caseiro, e o tocador de Bandoneon, a parte, era servido de galinha e porco assado, e recebia mais cinco contos de réis pela tocata.
Daí por diante tocar bandoneon foi e é a paixão da vida do Tio Mena, do seu
Plínio Mena Barreto do Amaral, com justiça, aqui e agora, hoje homenageado.
Odilon Garcez Ayres
Colega, amigo e testemunha
dessa história de vida.
Membro da Academia
Passo-Fundense de Letras.
Primeira entrevista realizada
no auditório da APL, dia 03.04.2013, a pedido do tradicionalista, Hilton
Araldi, e compilada na segunda entrevista dia 09.04.2013, para ser publicada na
Revista Água da Fonte da APL, e para homenagem ao biografado.
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