Há muitas diferenças entre um acordeon e um bandoneón.
Para quem os toca elas são óbvias e gritantes porém geram muitas dúvidas entre os que não tocam.
Diferenças
Quanto ao fole;
Ambos são instrumentos de fole mas aí já temos a primeira diferença. Se olharmos atentamente, o bandoneón possui um fole dividdo em três partes de 5 gomos cada enquanto o acordeon possui um fole único. Além disso, as cantoneiras de um fole de bandoneon são totalmente externas ao passo que as de um fole de acordeon elas têm as extremidades cobertas pelo debrum.
Uma ressalva deve ser feita: Alguns bandoneóns produzidos hoje na Europa (os Gutjahr por exemplo) não seguem esta tradição e apresentam fole com cantoneiras cobertas como os de acordeon.
Quanto ao madeiramento:
O madeiramento dos acordeons (salvo os muito antigos ou alguns modelos especiais) vem coberto externamente por celulóide enquanto os bandoneons (à exceção dos Danielson e de alguns modelos alemães que nunca vingaram por aqui) está lustrado à boneca com goma-laca ou pintado, podendo apresentar inscrutações em madrepérola (nácar).
Quanto à posição do teclado;
Num acordeon o teclado está posicionado para frente de modo que quem observa consegue divisar ambos teclados (teclas/botões e baixos).
Num bandoneón os teclados estão na lateral de forma que nem o músico nem o expectador conseguem vê-lo de frente.
Quanto ao timbre;
O timbre talvez seja a maior diferença entre ambos instrumentos.
Ambos instrumentos são aerófonos de palhetas livres, ou seja, emitem as notas a partir da pressão do ar produzida pelo fole que faz vibrar uma ou mais palhetas de aço rebitadas à uma placa.
No caso do acordeon, cada par de palhetas (uma que vibra ao abrir e outra ao fechar o fole) está rebitado a uma mesma plaqueta avulsa, sempre de alumínio, excetuando-se aqui raríssimas exceções como os muito antigos que diferiam no material ou os bayans russos quem têm chapas inteiriças.
No bandoneon as palhetas estão todas rebitadas em chapas contínuas e inteiriças (não avulsas por cada par) de alumínio ou de zinco. Há na Europa hoje bandoneóns com chapas de acordeon como os de Harry Geuns e outros. essa "inovação" aparentemente não tem o respaldo dos músicos, que preferem a antiga chapa inteiriça.
Essa diferença nas chapas faz que ao vibrar uma nota esta vibração faça soar também os harmônicos das outras notas rebitadas na mesma chapa. Isso confere uma singularidade tímbrica somente possível nesse instrumento.
Além disso, o acordeon pode produzir diversos timbres distintos com a combinação de oitavas das palhetas feita pelos registros.
O bandoneón produz o som a partir de duas palhetas por nota, uma grave e outra aguda, sempre com intervalo fixo de uma oitava e afinação justa.(Reinische II/II)
O acordeon, dependendo do modelo pode ter até cinco palhetas diferentes soando por nota. Via de regra são uma grave, de uma a três médias e uma aguda. A combinação entre elas o tipo de afinação possibilita em trono de até 15 combinações distintas para a melodia (mão direita e até 9 para a mão esquerda (baixos)
Quanto à extensão do teclado;
A extensão do teclado do bandoneón é de cerca de duas oitavas e meia em cada lado. Destas duas oitavas e meia há intervalos compartilhados por ambas mãos. Encontramos algumas notas da parte mais aguda do teclado da mão esquerda entre as notas mais graves do teclado da mão direita. Isso não é redundante pois ambas mãos podem produzir a mesma nota, solar em uníssono, com timbres diferentes especialmente por causa da caixa de ressonância da mão esquerda, que confere um timbre bastante aveludado em comparação ao timbre cortante da mão direita.
Como o assunto é bandoneón não cabe entrar no mérito dos bayans russos de 64 notas e sistema de baixo solto, ou alguns de 140 baixos...
Assim, excetuando-se este tipo de acordeon, temos que um acordeon pode possuir até 41 (ou 45) teclas e 120 baixos. O aparentemente expresivo número de baixos não se traduz em número de notas. O acordeon tem este nome por ter a mão esquerda baseada em acordes prontos. Assim, mesmo com 120 baixos um acordeon produz apenas uma oitava em notas soltas. o resto são acordes maiores, menores...
As diferenças aqui expostas levam em conta um acordeon a piano. Pela diversidade de modelos e sistemas seria preciso um outro blog para tratar também dos acordeons de botão (cromáticos e/ou diatônicos)
Considerações finais
O acordeon é um instrumento mais rítmico que o bandoneón. Consegue fazer uma base mais segura para o solo da mão direita.
Por dispor somente de notas soltas em ambas mãos o bandoneón, presta-se a uma harmonia mais complexa, possibilitando acordes inimagináveis em qualquer outro instrumento pela proximidade de notas que em qualquer outro sistema estaria demasiadamente longe.
Também por causa das notas soltas em ambos lados presta-se a solos em terças, sextas, oitavas, etc...
Por estas diferenças o repertório de cada instrumnto é flagrantemente distinto.
Bacana!
ResponderExcluirObrigado. Muito bom.
ResponderExcluirObrigada pelos esclarecimentos! Há muito tempo achava que fossem a mesma coisa, apenas com nomes distintos porque o acordeon é mais usado aqui no Brasil e o bandoneón é Argentino.
ResponderExcluirmuito bom
ResponderExcluirgostei..
ResponderExcluirMuito bem explicado mas preciso ler várias vezes para assimilar tantas peculiaridades.
ResponderExcluirExcelente...que tal nos brindar com um blog a respeito das " concertinas", muito utilizadas pelos italianos e pomeranos no Espirito Santo?
ResponderExcluirA respeito das "conseertinas" favor não esquecer "Portugal" o país nativo delas. Nos idos em que nasci, já la vão mais de 70 anos, esse era o instrumento que havia em quase todas as residências rurais, para fazer a festa nos dias festivos, fossem eles religiosos, populares, ou para festejar a boa colheita. o Bailarico era garantido!
ExcluirObrigada, gostei bastante!
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